A toxicidade de alguns ingredientes em cosméticos convencionais.

            Existem muitos ingredientes que estão presentes em cosméticos, que podem causar danos à saúde. Muitas dessas substancias aparecem nos rótulos  de forma tão complexa que impossibilita do  consumidor saber suas contras indicações. Mas, quais os riscos que os cosméticos podem causar a nossa saúde? Tudo o que se faz na vida existe moderação. Não poderia ser diferente com o uso dos cosméticos. No entanto, é necessário conhecer os ingredientes tóxicos em cosméticos que devem ser evitados ou utilizados moderadamente devido aos efeitos prejudiciais à saúde humana e ao ambiente como um todo. 

            O interesse por produtos sustentáveis tem aumentado ao longo dos anos, desde a escolha das matérias primas, da cadeia produtiva envolvida, embalagens e processos de produção. Isso mostra a preocupação existente a nível ambiental e consciencial (SANTOS et al, 2013).

            Os cosméticos veganos e naturais são tendências de mercado porque os consumidores estão mudando seus hábitos e tendem a comprar mais produtos que resolvam questões sociais, ambientais e de direitos dos animais. Portanto, o engenheiro químico é um dos profissionais da indústria cosmética que pode garantir a qualidade do produto. 

            Vários compostos orgânicos sintéticos são potencialmente tóxicos, mas existem alternativas que podem ser fornecidas a esse mercado de forma consciente e sustentável. A utilização de produtos industriais e tradicionais afeta diretamente a saúde humana, pois contêm substâncias que podem ou mesmo revelarem-se prejudiciais ao nosso organismo.

            Triclosan, o nome parece estranho, mas muitas pessoas não sabem que esse ingrediente está contido em um produto que usamos com frequência e é considerado um agente antibacteriano eficaz. O triclosan é encontrado em sabonetes, pastas de dente e desodorantes. E seu uso indiscriminado destrói o sistema de defesa do corpo e reduz a função muscular, o que pode afetar o coração.

            Outro ingrediente que tem o mesmo efeito do triclosan é o triclocarban. Esta substância é encontrada principalmente em sabonetes, antitranspirantes, desodorantes e limpadores faciais. Os problemas que envolvem o triclocarban estão relacionados ao processo de bioacumulação ou magnificação trófica que o faz existir em diferentes níveis da cadeia alimentar até chegar ao ser humano.   Por causa desse consumo, estudos mostraram que o triclocarban pode desregular a produção de hormônios sexuais e aumentar a chance de câncer de mama e de próstata.

            Há diversos produtos conservantes naturais que podem ser utilizados em formulações cosméticas, que podem substituir parabenos, triclosan e metilisotiazolinona. Dentre eles destacam-se o Nipaguard e o Spectrastat. (ULPROSPECTOR, 2021a; ULPROSPECTOR, 2021b).

            Por outro lado, o formaldeído é um componente do composto orgânico volátil (VOC) considerado cancerígeno pela Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (IARC) e produzido por outra substância muito prejudicial à saúde. O problema do formaldeído, está relacionado à alta concentração na atmosfera por emissões antropogênicas e sua presença em cosméticos como esmaltes e produtos para cabelos lisos. Os efeitos na saúde variam de irritação da garganta, olhos e nariz ao carcinoma de rinofaringe e leucemia.

            Liberadores de formaldeído – essas substâncias são contaminadas com formaldeído durante o processo de fabricação. Bronopol,  diazolidinil uréia, imidazolidinil uréia, quaternium-15 e a DMDM hidantoína liberam continuamente uma pequena quantidade de formaldeído, que é muito volátil e cai facilmente em sabões e outros produtos. Essas substâncias também apresentam propriedades antibacterianas, assim como o triclosan. Dessa forma, eles também podem promover resistência bacteriana.

            Alcatrão de carvão ou alcatrão de hulha é uma substância encontrada principalmente em tinturas de cabelo permanentes chamadas alcatrão de carvão. De acordo com a plataforma PubMed, o alcatrão de carvão está associado ao aparecimento de câncer em experimentos com animais. Este composto é derivado do carvão digital processado auxiliando fixação de cor muito encontrado em tintura de cabelo. A IARC acredita que o alcatrão de hulha é cancerígeno para os humanos. Os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (PAH) podem ser encontrados no alcatrão de carvão – o PAH está associado a problemas cardíacos.

            Cocamida DEA ingrediente encontrado em produtos de limpeza  como detergentes, e cosméticos, como os shampoos. De acordo com a IARC, esse componente causa câncer. Já o BHA -Buthylated Hydroxyanisole como se apresenta nas embalagens são encontrados em batons, sombras, desodorantes e antitranspirantes.  Com base em experimentos com animais, o Programa Nacional de Toxicologia os dois componentes são prejudiciais ao ser humano.

            O chumbo é um metal pesado nocivo ao homem e ao meio ambiente em altas doses. Está presente no ambiente por conta de atividades antropogênicas, especialmente por emissão de fundições e fábricas de baterias.  Pode existir na atmosfera como partículas – essas partículas podem ser transportadas por longas distâncias e se acumular em outros lugares por meio de depósitos úmidos ou secos. Chumbo (Pb) está associado ao câncer provocando depressão, agitação, agressão, perda de concentração, déficit de QI, hiperatividade, desregulação do ciclo menstrual, nascimento prematuro, Alzheimer, Parkinson, redução das capacidades cognitivas, entre outros distúrbios e doenças.

            Alguns produtos utilizam chumbo em seus ingredientes, como tintas, cigarros, painéis e acumuladores de baterias, produtos de vitrificação, esmaltes, vidros e peças de borracha. Outras fontes de exposição ao chumbo são cosméticos e produtos de beleza, como tinturas de cabelo e batons. No Brasil, esse metal é regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e só pode estar presente em tinturas capilares com limite de 0,6%.

             A fragrância é uma substância encontrada em perfumes, cosméticos e produtos de limpeza. No entanto, muitos deles não aparecem no rótulo e podem ser prejudiciais à saúde. Os ftalatos encontrados com a fragrância podem danificar o sistema endócrino. Essas substâncias são chamadas de desreguladores endócrinos. Outro estudo mostrou que certos perfumes podem causar reações alérgicas e dores de cabeça em algumas pessoas.

            O parabenos é um produto químico amplamente utilizado em cosméticos devido aos seus efeitos antibacterianos e antifúngicos. De acordo com o FDA, os produtos que podem conter parabenos incluem cosméticos, desodorantes, hidratantes, loções, esmaltes, óleos e loções infantis, produtos para o cabelo, perfumes, tintas para tatuagem e até cremes de barbear.

            Você também pode encontrá-los em certos tipos de alimentos e medicamentos.

Tolueno – Também conhecido como metilbenzeno  é uma substância volátil com cheiro peculiar e inflamável, muito prejudicial à saúde se ingerido ou inalado. O sistema respiratório é a principal via de exposição a essa substância, sendo rapidamente transportada para os pulmões e sangue. Dependendo da intensidade da exposição, pode irritar os olhos e a garganta. Se exposto por um longo tempo, podem ocorrer efeitos tóxicos como dor de cabeça, confusão e tontura.  É bem sabido que o tolueno é um depressor do sistema nervoso central (SNC), semelhante ao processo que ocorre quando o álcool é consumido. No entanto, podemos entrar em contato com essa substância sem perceber. O tolueno pode ser encontrado em colas, gasolina, solventes, detergentes e cosméticos. Outros estudos têm mostrado que o ambiente doméstico é uma das formas mais relevantes de exposição ao tolueno. O esmalte para as unhas contem esta substância. A substância também está relacionada a problemas ginecológicos. Pesquisadores da Universidade de Granada  estudaram o papel dos desreguladores endócrinos, como os parabenos e a benzofenona, no desenvolvimento da endometriose, que é uma doença inflamatória caracterizada pelo crescimento anormal de tecidos dentro do útero. Os cientistas quantificaram os níveis internos de parabenos e benzofenona em 124 mulheres (com ou sem endometriose) e coletaram informações detalhadas sobre o uso de cosméticos e produtos de beleza por cada mulher. Os resultados mostram que existe uma ligação clara entre o aumento do uso de diferentes tipos de cosméticos e os níveis internos mais elevados de parabenos e benzofenonas.

            O ácido bórico é um ácido fraco comumente usado como conservante, inseticida e retardante de chamas. Tem efeitos antibacterianos fracos. Em algumas pessoas, a exposição ao ácido bórico pode causar reações alérgicas, irritação nos olhos e no sistema respiratório. O ácido bórico em baixa dosagem não representa uma ameaça à saúde. O boro é um elemento naturalmente presente na nossa alimentação e necessário para o funcionamento normal do nosso organismo, mas pode causar problemas em doses elevadas. Segundo pesquisas, além de afetar o aparelho reprodutor de animais machos, altas doses de boro também podem causar neurotoxicidade. O ácido bórico não é considerado cancerígeno para humanos. Em altas concentrações no meio ambiente, pode ser prejudicial às plantas e outros organismos, por isso é importante minimizar seu despejo em corpos hídricos.

            Pode ser encontrado em conservantes e adstringentes, esmaltes, cremes para a pele, algumas tintas, inseticidas, produtos que matam baratas e formigas e alguns produtos para os olhos. Caso você tenha algum tipo de alergia a essa substância, preste atenção ao rótulo da embalagem para garantir que o ácido bórico não seja utilizado em sua composição.

            Agentes de liberação de dioxano é encontrado em  muitos cosméticos, como shampoos, medicamentos e produtos de limpeza, podem conter substâncias que transportam 1,4-dioxano. São eles: polietilenos glicóis (polyethylene glycols – PEGs), polietilenos (polyethylene), polioxietileno (polyoxyethylene) e ceteareth. 1,4-dioxano ou 1,4–dioxane  é um composto orgânico volátil (COV) que pode estar presente em grandes quantidades na água tratada. Se inalado, pode causar danos ao fígado e rins, câncer de fígado e câncer de cavidade nasal. A IARC acredita que o composto pode causar câncer em humanos. O lauril sulfato de sódio é um  tensoativo responsável por retirar oleosidade, produzir espuma e permitir a penetração da água na pele ou nos cabelos. responsável por remover a oleosidade, criando espuma e permitindo que a água penetre na pele ou nos cabelos. Ele pode ser encontrado em produtos de limpeza e muitos cosméticos, como xampus, demaquilantes, sais de banho e dentifrícios. O lauril sulfato de sódio são prejudiciais porque podem causar reações alérgicas. Devido à falta de evidências científicas, rumores de que esses compostos podem causar câncer não foram confirmados.

            Palmitato de retinol é derivado do retinol. No corpo humano, o retinol é uma forma de vitamina A. Este micronutriente é necessário para o funcionamento normal dos olhos e essencial para o crescimento e desenvolvimento das crianças, participa também nas defesas do organismo e ajuda a manter as membranas mucosas como nariz, garganta e boca úmidas. Sua deficiência, além de causar cegueira noturna, ou seja, é difícil enxergar com clareza ao anoitecer, também pode causar alterações na pele e aumentar a gravidade das infecções infantis e dos problemas de crescimento.

            Os ftalatos são um grupo de compostos usados ​​como plastificantes e solventes. Eles são encontrados em cosméticos, diversos plásticos, brinquedos infantis, capas de chuva, adesivos, esmaltes, perfumes, sabonetes, xampus e sprays para cabelo. O contato com ftalatos pode ocorrer por contato direto ou pelo trato respiratório. Os efeitos desse ingrediente na saúde incluem distúrbios hormonais e possíveis efeitos no sistema reprodutivo. Outros efeitos, como irritação da pele, também foram observados em testes com um grande número de ftalatos. Experimentos com animais mostraram que a presença de ftalatos no corpo está relacionada ao aparecimento de tumores e à proliferação desregulada de organelas chamadas peroxissomos, que levam ao aparecimento de câncer. A IARC classifica os ftalatos como potencialmente cancerígenos para humanos (Grupo 2B).

            Fluor – é um elemento químico encontrado na natureza na forma de flúor. É encontrada na água tratada, na água natural e em todos os alimentos que contêm flúor. A concentração varia de alimento para alimento, como vegetais – eles contêm mais flúor quando absorvidos da água e do solo. Segundo a Empresa Paulista de Meio Ambiente (Cetesb), além das hortaliças, os peixes também contêm alto teor de flúor. Pasta de dente, goma de mascar e remédios também contêm flúor.

Após a ingestão de flúor, parte será absorvida pelos ossos e parte pelos dentes. O sucesso do flúor no controle da cárie dentária no passado tornou-se uma preocupação de alguns pesquisadores. Há muito tempo os sistemas públicos de abastecimento de água são fluoretados, o que pode causar alguns problemas de saúde para a população, principalmente para as crianças, e o excesso de flúor pode causar fluorose dentária.

Ineficiência na hidratação – Um experimento conduzido pelo National Institutes of Health (INS) comparou a eficiência do uso de hidratantes de plantas e óleos vegetais, como óleo de gérmen de trigo e extrato de aloe vera. O estudo analisou os fatores físicos e químicos de cada produto e concluiu que uma fórmula contendo óleo de gérmen de trigo e extrato de babosa produzia melhor hidratação da pele em comparação com uma fórmula contendo óleo de gérmen de trigo e extrato de aloe vera sozinho. Isso significa que o uso de hidratantes de ervas não é tão eficaz quanto o uso de óleos vegetais para hidratar a pele. Portanto, além de conter em seus ingredientes substâncias nocivas à saúde, os hidratantes químicos não são totalmente eficazes na prevenção da perda de umidade e do ressecamento da pele.

Referências

ECYCLE, Equipe. Conheça os ingredientes nocivos dos cosméticos. Saúde e Bem estar. Disponível em: <https://www.ecycle.com.br/ingredientes-nocivos-cosmeticos/>

MORAES, A. L. S.; MARTINS, D. A.; ANDRADE, L. M.; PEREIRA, R. S. F.; SILVA, N. Cosmetologia: origem, evolução, tendências. ÚNICA cadernos acadêmicos, v. 2, p. 1-13, 2019.

ROCHA, B. A.; ASIMAKOPOULOS, A. G.; HONDA, M.; COSTA, N. L.; BARBOSA, R. M.; BARBOSA JR., F.; KANNAN, K. Advanced data mining approaches in the assessment of urinary concentrations of bisphenols, chlorophenols, parabens and benzophenones in Brazilian children and their association to DNA damage. Environ. Res., v. 116, p. 269-277-336, 2018.

SANTOS, B. F.; CORRÊA, M. A.; CHORILLI, M. Sustainability, natural and organic cosmetics: consumer, products, efficacy, toxicological and regulatory considerations. Braz. J. Pharm. Sci., v. 51, p. 17-26, 2015.

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